quarta-feira, 4 de junho de 2014

Sobre originalidade, futilidade, e a vida

Acho que dessa vez é pra valer... Pelo menos vou tentar fazer com que seja!

Desde o primeiro e péssimo  post desta pessoa que vos escreve, um incontável tanto de coisas mudou. Mas os interesses foram a principal mudança. De uma forma geral, sim, ainda gosto de séries, livros, esmaltes... Mas a minha consideração sobre o que é relevante compartilhar tomou outro rumo.

Acho que hoje a internet e a geração atual (geração Z?) estão no momento do "originalidade é querer ser diferente sendo igual". Confesso que eu mesma sofro com esse problema, às vezes buscando encontrar minhas singularidades em alguns conteúdos "encaixotados", clichês. No entanto, procuro sempre buscar a originalidade e a verossimilhança (ui!) no conteúdo que consumo. Às vezes não dá pra fugir, tamanha a correnteza no sentido contrário. Por exemplo: já notaram a explosão de blogs de garotas novinhas, mostrando suas viagens, quartos com decoração fofa (não raro cheio de bonecos de pelúcia de um desenho animado, miniaturas de torre Eiffel, quadrinhos com frases em inglês e porta-trecos de cerâmica/porcelana), maquiagens, compras na ParaSempreVinteEUm e "Céfora"...? Sim, acho que são características do que está na moda pra essa geração. Mas como pode ser tudo tão igual? Não consigo ver espontaneidade em quase nada...

Um bom exemplo são esses blogs de moda e beleza. Inventaram um tal "conglomerado" de blogs que convida as autoras a participarem da primeira fila de desfile de moda, viagens, obrigam-nas a fazer propagandas de certos produtos e serviços, entre outros absurdos. Ok, muito belo e muito encantador. Mas acaba que no fim do seu momento de descanso, você percebe que viu mais de dez blogs e 60% do conteúdo era o mesmo! Não por conta de um lançamento X que todo mundo está comentando, ou um acontecimento "bafonístico" no mundo das celebridades. Mas porque esse bendito conglomerado está em (quase) todos os lugares, e pior: influenciando mesmo quem está fora dele.

Outro dia eu estava pensando, meio com raiva, que iria escrever um email bem espinhoso pra uma blogueira de maquiagem, uma mulher linda, brasileira, que creio ter sido uma das pioneiras em blogs e vídeos de tutoriais do assunto. O site dela tomou um rumo infeliz, na minha opinião: em vez do senso de originalidade que tinha antes, passou a ser um semi-escravo de marcas e empresas para as quais ela faz jabá. Veja bem, não se trata (só) de empresas de maquiagem querendo anunciar produtos no blog dela, mas hotéis fazendo propaganda de um inimaginável fim de semana de Dia dos Namorados pela bagatela de R$5.000, estilistas que não vendem vestidos por menos de R$10.000, almoço de luxo no restaurante mais badalado de São Paulo, devoção à bolsas com o duplo C na fivela, e a lista só cresce. A minha indignação não me deixava fazer outra coisa a não ser me questionar: cadê o conteúdo que o público realmente quer ver? Não que estes eventos e fotos não tenham verdadeira beleza, mas e a originalidade? Um exemplo, no site dela, seria uma inspiração da maquiagem que tal pessoa usou, um batom mais barato irmão gêmeo do caríssimo, e até como fazer looks inteiros que custariam um quinto do preço da tal bolsa.

Percebo que há um tanto de futilidade no que eu digo. Mas acho que é aí que está o âmago da questão: não quero um fim de semana fútil de R$5.000 num hotel, mas gostaria de ideias criativas de como passar o Dia dos Namorados on a budget! Quão mais legal seria isso, não é? Eu já admirei essas moças que estão sempre arrumadas e com roupas ajustadas, mas hoje fico feliz da vida em ver um filme de moletom comendo toneladas de pipoca. Fico transtornada com o frisson que certos blogs de moda e beleza causam, pois eles vendem algo que a maioria do seu público não pode ter! Uma vez uma amiga me disse que é pra isso que serve: alienação da parte boba da classe média. E acho que ela estava certa. É aquela velha praga de admirar quem faz muito dinheiro trabalhando pouco, ou melhor, trabalhando com a futilidade humana.

É claro que não há nada de errado em almejar crescer na vida e ganhar dinheiro. Mas olha a proporção que isso toma... No fim das contas, milhares de jovens colocam muito de suas energias em desejar e pouco em realmente conquistar. E o que isso cria? Adultos insatisfeitos e idosos cheios de remorsos e amarguras. Eu garanto pra vocês: é muito mais gostoso fazer um piquenique no meio da sala e planejar programas inusitados do que guardar até o último centavo pra passar o fim de semana no tal hotel, e ainda ter que aturar a "high society" te julgando da cabeça aos pés, reparando em como você é um intruso.

Mais originalidade, por favor! Mais banhos de chuva e árvores de Natal de livros, menos duck face e capa de iPhone do Chanel Nº5.

Um beijo, salut!